Preciso pedir desculpas pela falta de comentários nos blogs amigos, mas meu computador continua transtornado, e eu mais ainda! um dia isso passa...
Eu tive um tio implicante, um tio alcoólatra, um asmático, um lindo de morrer - e que morreu muito cedo - e um subjugado pela mulher.
Tive também um tio mal humorado, um pobre demais, um que não vinha em casa sem trazer os bolsos cheios de balas (o asmático).
Desses tios apenas um está conosco. É o tio gordo e guloso, cardíaco e muito religioso.
Mas o que mais tenho saudade é do tio alcoólatra. Ele deixou de beber bem antes de morrer, recuperou-se para não dar vergonha aos netos - segundo contava - e também para manter-se lúcido e útil após a morte de minha tia, sua mulher.
Era um homem encantador. Cabelos crespos, rosto redondo, sorriso de dentes pequenos como os de meu avô.
E como meu avô ele gostava de tomar vinho. Irmão de minha mãe, eram muito amigos e compadres.
Teve quatro filhos homens tentando ter uma menina.
No último parto minha tia deu um basta! - não fico mais grávida, sei que será menino!
E ficou decretado aí o fim do grande sonho de ter uma menina, como eu...que ele amava e cobria de mimos.
Me carregava, jogava pro alto, beijava e fazia cócegas. Levava no armazém para comprar doces, penteava meus cabelos, e dizia sempre, sempre que me abraçava:- minha menina linda!
Com o passar do tempo fui amadurecendo e percebia quando ele estava embriagado, isso me inibia, mas ele insistia em me beijar, me abraçar...contar historias de quando eu era criança.
Eu não gostava de encontrá-lo nesse estado, sofria com minha tia e primos, mas tinha uma grande pena daquele homem bonito e carinhoso.
Quando meus filhos nasciam esperava uns dias e ia visitar-me, levando sempre um pedaço de tecido, como era costume, para que eu fizesse lençóis ou fronhas para o bebê.
Quem sabe uma colcha? sugeria ele com sua voz doce e baixa...
Ao atingir os cinquenta e tantos anos parou de beber, parou de andar muito pela cidade e - tenho certeza - perdeu o brilho do olhar, a lucidez o incomodava, a vida já não tinha tanta graça.
Quando morreu eu estava longe, morando em outra cidade, papai me avisou muito tarde, já não havia tempo de chegar.
Hoje me lembrei bastante dele ao ver um anexo que recebi de um amigo. Há pessoas que passam pela nossa vida tão de leve, tão ao largo, que mal nos lembramos de seu olhar, de seu sorriso.
Meu tio "Zé" não foi assim. Ele marcou, passou bem ao lado, segurou em minhas mãos inúmeras vezes, beijou meu rosto outras tantas. Difícil esquecer, fácil sentir saudade e vontade de voltar a abraçar e ficar quietinha, enrolada em seu colo, sentindo seus dedos em meus cabelos.
Esse foi meu tio preferido - entre tantos- um dia falo do asmático, do gordo, do mal humorado, do lindo...
Ah! e tem também aquele que a mulher mandava nele, e como!
E acreditem, eu adorava aquela tia...fofa demais!