quinta-feira, 31 de março de 2011

Um caderno de receitas

Minha amiga Ana Paula (não é a nora) do blog "do lado de fora do coração" me indicou  hoje uma postagem em outro blog - meia vida inteira -  onde a Helena conta de sua caixa de fotos antigas e outras lembranças.
Fui até lá,  e realmente a postagem dela está encantadora.
A Ana é amiga virtual, como outras queridas, sabe fazer poesia gostosa e conta historias do cotidiano de uma maneira bem divertida.
Quando estava lendo a postagem da Helena lembrei-me subitamente do meu velho caderno de receitas.
Pensa num caderno velho e esquisito. Pena que não tenho como, hoje, tirar umas fotos para mostrar aqui.
Nem caderno é...coitado. Era uma agenda sem uso, de meu marido, esquecida sobre a escrivaninha. Decidi dar a ela um destino mais digno, mais útil,  e comecei a copiar minhas receitas favoritas. Quando não tinha tempo de copiar, recortava de uma revista, ou embalagem de algum alimento, e colava em suas páginas.
Pobre agenda, seus dias de glória foram curtos - mas - logo começou sua deliciosa historia.
Minhas crianças foram crescendo, e consequentemente alcançando a mesa onde eu preparava minhas receitas.
Logo estavam sentados em volta, fazendo mil perguntas, enfiando os dedos onde não deviam e - lógico - folheando o caderno.
Entre só olhar e surgirem lápis e caneta, foi um piscar de olhos. As anotações vão de engraçadas a emocionantes. De ingênuas a bem espertas. Os tres deixaram gravados ali, vários anos de alegria e pura poesia.
Tenho declarações de amor eterno. Tenho pedidos de presente para Papai Noel. Tenho receitas imaginárias, só para brincar comigo. Tenho receitas do tipo:
- 1 pitada de amor
- 1 beijinho
- 1 abraço
- 1 pouco de carinho
-  uma receita para minha mãe mais querida. (quantas mães teria?)

Brincadeiras como: "hoje eu vou à casa da Cássia, vai ter festa!"
                               Em outra letra:
                               "vai nada sua chata, o papai não vai deixar!"

Ou um recadinho assim: "mamãe eu te amo. Você é minha mãe preferida".(de novo!)

Muitos recortes de revista, com receitas de verdade, mas tão mal cortadas e coladas,  estão lá, como foram postas, nunca tirei. Desenhos de mesas de festa, de papai-noel chegando com um saco bem grande, de flores das mais variadas, enfim, uma delicia!
Em um dia 6 de março tem um recadinho assim: "mamãe, a primavera está chegando!" e várias flores coloridas em volta. As letrinhas frágeis, tortas, desiguais. Algumas não consigo saber de quem são. Misturam-se, são parecidas em sua inocência.
A aparência das folhas daria uma capitulo à parte. Além do amarelado comum do tempo, encontro gotas de chocolate, de manteiga, de ovo batido....
A agenda está lá, bem guardada.  Lembro-me apenas quando quero uma antiga receita ou como hoje, lendo a postagem da Helena.
Qualquer dia peço para um de meus filhos tirar algumas fotos, bem de pertinho,  para colocar aqui em meu querido blog. Assim, quem hoje estiver lendo vai poder matar a curiosidade e ver alguns detalhes dessa reliquia que eu tenho em casa.
É mais um pedacinho de minha vida que vocês ficam conhecendo, sobre o qual falo com alegria,  pois é um registro lindo e real de anos que foram inesquecíveis.

Voltarei ao assunto quando tiver as fotos. Beijo.





quarta-feira, 30 de março de 2011

As minhas fotos

Ontem minha filha resolveu procurar algumas fotos antigas, do período em que era criança, para mostrar aos filhos. São muitas, a caixa é enorme e muito desorganizada. Não existe um critério, nem por datas nem por pessoas, e então a bagunça ficou instaurada.
As crianças adoraram aquela sensação de que finalmente não havia contrôle algum, riam e mostravam fotos de pessoas que nunca viram,  falavam alto e divertiram-se muito.
Revi algumas fotos que há tempos não via. Quantas lembranças lindas, carinhosas, que enchem o coração de calor.
Tantos rostos sorrindo, alguns bem descontraídos, outros fazendo pose, caprichando no olhar. Gente bonita, crianças felizes, avós orgulhosos. Tudo tão atual, e tão antigo.
A essência da minha alegria, do meu orgulho está ali, naquela caixa de fotos. Toda uma vida registrada em cores, para que eu possa resgata-la e respira-la quando sentir vontade.
Não é doloroso, é gratificante. Temos uma historia linda que foi registrada e está ali, ao alcançe das mãos, para quem quiser entender.
Ninguém é  infeliz quando tem uma familia como a minha. Pais, irmãos, cunhados e cunhadas, sobrinhos, sogros, tios. Todos ali emaranhados, misturados, como realmente é a vida, uma confusão de pessoas que entram e saem, uma festa onde a porta está sempre aberta para quem quer entrar, ou sair...
A familia sempre foi e será o esteio de tudo. Basta reuni-la para que as energias sejam renovadas. Estender as mãos e tocar uma foto de um ente querido é como receber um afago, uma brisa quente no rosto, um carinho.
Somos simples, pessoas carinhosas, choronas e amorosas. Sabemos de onde viemos e temos muito orgulho em contar nossa história. Somos uma mistura de raças e sobrenomes, que trouxe ao mundo gente de boa índole, digna e trabalhadora.
Aos meus netos queridos deixo aqui uma pequena mensagem: - "Olhem bem as fotos antigas, vejam seus pais e avós, comparem os traços, os cabelos, os sorrisos. Verão que em cada um de vocês existe um pedacinho de nós todos. Orgulhem-se disso, sintam-se abençoados, afinal, vocês nasceram em uma familia que sabe o significado da palavra amor e principalmente da palavra respeito."
 - conto com vocês para levarem adiante essa faísca de alegria que se vê em cada olhar, em cada foto.

A bola está com vocês...



... e o bolo também!

quinta-feira, 24 de março de 2011

A visita


Quando abriu a porta e viu que tratava-se da vizinha e amiga, do andar de baixo, pediu que entrasse, sem rodeios.
Ela trazia um objeto nas mãos, uma espécie de porta-retratos, encostado ao peito.  Olhou para a amiga e disse: - "Veja quem chegou para visitar você. Nossa mãe querida..."
Só então a mulher percebeu do que se tratava. Lá estava a figura de Maria, mãe de Jesus, a peregrina que passa um dia na casa de cada morador do bairro. Já havia percebido o movimento das mulheres levando e trazendo a imagem, mas a amiga fez uma surpresa, não avisou sobre a visita.
Colocada sobre um móvel da sala, ficou ali, meio constrangida, sentindo-se intrusa. Não é do tipo de visita que toma um cafezinho, troca dois dedos de prosa e vai embora.
Não, ela espera um olhar, uma oração ou um pedido. Está acostumada a ouvir muita lamentação, lágrimas à espera de um milagre, olhares desesperados procurando consolo.  Não raro  algum agradecimento, um afago, até um beijo...
Mas naquela sala estava sentindo-se intrusa. Não havia sido convidada e a anfitriã já dera muitos sinais de que suas relações estavam estremecidas.  Como tem por principio o respeito à opinião das pessoas, quedou-se ali, só olhando com seu sorriso suave nos lábios.
Mas a mulher foi gentil, falou com ela sobre suas dúvidas e decepções, seus planos e sonhos, e principalmente sobre os filhos e netos.
Nada pediu. Sentia-se constrangida diante da soberba imagem da Mãe de Jesus, doce e meiga, e também não achava-se confortavel para reinvindicar favores.
O relacionamento estava rompido há muitos anos, por conta de feridas escancaradas e mal curadas. Sentia-se violentada em sua dedicação, cansada de dar-se sempre, entregar-se sempre, dobrar-se sempre.
Não, não iria cair de joelhos, chorando e pedindo perdão, principalmente porque não se sentia em pecado.
Conversou longamente com sua visita, contou-lhe os motivos da ausência nas missas, nas procissões, até mesmo nas festas da igreja. Falou de suas angústias e medos, como se estivesse na presença de uma amiga, silenciosa e solene amiga, que ouvia e sorria, concordando e entendendo suas palavras.
Na despedida, um abraço sincero, votos de uma peregrinação  tranquila, até um carinho no rosto, um sorriso na face.
Essa mulher está começando a entender o significado das imagens. Elas remetem à força imaginária, à luz, à atração forte e irresistível  pelo que nos dá a natureza. É a imagem do bem,  na qual você precisa se concentrar para alcançar a energia que é vida, a paz de seu espirito, o conforto da alma.
Gostou da visita da bela Senhora.  Sabe que voltará dentro de algum tempo, quando completar  o ciclo de visitas pelo bairro.
Sabe também que receberá a amiga de braços abertos, falarão sobre seus assuntos, talvez até contem coisas engraçadas, riem, porque é assim que se comporta uma mulher que sabe abrir as portas de seu lar para os amigos.
Com dignidade e alegria...sempre!




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sexta-feira, 18 de março de 2011

Edison - 60 anos!


"Você meu amigo de fé, meu irmão camarada...
  Amigo de tantos caminhos, e tantas jornadas...
  cabeça de homem mas o coração de menino...
  aquele que está do meu lado
  em qualquer caminhada..."

Pessoas que olharem para essa foto, um alerta! ele não é essa criança inocente segurando seu ursinho.
Não se deixem enganar pelo olhar maroto, notem o sorriso enigmático. Vocês nem imaginam o que tem por trás dessa máscara.
Imaginem uma menina tímida, ingênua por demais, vítima de seu irmão mais novo (não muito mais novo!).
Essa menina (eu) queria muito saber pedalar uma bicicleta. O irmão generoso diz:
- vamos, pode pedalar que eu seguro você. Não vou largar...
Imaginem uma rua, descida de terra, no final da rua um terreno baldio onde as pessoas jogavam lixo, muito lixo.
A menina pedalando, com medo, e gritando:- não solta, não solta!
Claro que ele não soltou no percurso todo, apenas quando estava chegando no lixão.
Foi um tombo digno de aparecer no Faustão, se acaso já houvesse. Trauma para o resto da vida, todas as crianças da rua gargalhando, foi para nunca mais esquecer.
Inesquecível também o dia que correu atrás da coitada da irmã (eu)  com uma faca de cozinha, dizendo que ia matá-la. Era tudo brincadeira segundo ele. Será? segundo ela...
Brincar de casinha com as amigas era um desafio.  Tomavam banho de xixi - nas costas - quando estavam sentadas no chão, distraidas. Pobres meninas, saiam correndo e gritando quando percebiam o que estava  acontecendo, um horror!
Boas lembranças? ótimas, sem dúvida.  Mas o bom mesmo é poder hoje estar contando tudo isso, rindo ou chorando, afinal nem tudo foi alegria, mas nem tudo foi ruim.
Aquele menino bonito, chorão, estragadinho e mimado pela mãe, agora vai para a cozinha, faz pratos deliciosos e promove encontros divertidos que todos adoram.
Hoje é seu aniversário, sessenta (60!!!) anos, que você faz questão de comemorar com muita música e gente ao seu redor.
E é assim que será. Sem lágrimas, sem saudade ou lembranças amargas.
Certamente sabemos que se fosse possível um recomeço, todos escolheríamos os mesmos pais, irmãos, o mesmo ninho. Simples assim...um ninho para onde voltar.
Parabéns meu irmão. Que seus dias sejam calmos, sua noites serenas, suas mesas fartas. Essa nossa caminhada está longe de acabar (toc, toc, toc, na madeira) e eu pretendo ainda rir e chorar muito ao seu lado, contando "causos" para nossos filhos.
Te amamos muito. Um brinde à sua saúde...tim,tim!

Algumas hortências, as flores preferidas da mamãe...olha que lindas!

terça-feira, 15 de março de 2011

Thiago

Existem pessoas fofas e pessoas muito fofas. Essa pessoa que faz aniversario hoje está entre as muito fofas.
Nunca deixaria de escrever algumas linhas para ele, mesmo sabendo que irão me carimbar como "puxa-saco", "baba-ovo" e outras coisinhas mais. Mas eu não ligo.
Esse menino querido entrava em minha casa - isso há bem mais de vinte anos - gritando, correndo, levando os tapetes nos pés, com um só objetivo em mente:  - a cozinha!
Então, invariavelmente, perguntava "fungando" - tia, tem bolo?"
Só quem viveu aqueles dias pode rir dessa lembrança. O funga-funga era por conta de uma adenoide, que já não existe mais. Agora...o prazer de comer bolo (e tudo o que é de comer) ele não perdeu jamais.
Quanta saudade!
Hoje, nosso menino transformou-se em homem, engenheiro, jipeiro, batalhador, orgulho de tios e primos que o amam.
Orgulho estampado também na face do pai, que tem um brilho diferente no olhar quando fala do filho amigo, companheiro de passeios de jeep, cúmplice em episódios tristes que os aproximaram ainda mais.
Orgulho visível também da mãe, minha cunhada, que não esconde a satisfação de ver seu filhão realizando seus sonhos.
Enfim, um menino muito querido, lindo, sorriso fácil, olhar de moleque travesso.
Me encheu de alegria e emoção há poucos dias quando ao lado de sua noiva (doce Karin) me convidou para madrinha de seu casamento.
Estou pensando se aceito... tenho medo de enfartar de emoção no altar! (brincadeirinha...)
Enfim Thiago, fica aqui uma pequena homenagem a você, que, como se fosse meu filho  me emociona e me enche de carinho. Como agradecer? Estamos distantes, não posso siquer bater um bolo para lhe agradar.
Posso apenas levantar um brinde - de cerveja bem gelada - e prometo que vou fazer isso, com prazer.
Sei que será sempre muito feliz, e é isso o que esperamos sinceramente.
Tim...tim! Saude!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mulher



Podem brigar comigo porque não fiz, nessa nossa semana da mulher, um comentário siquer sobre o assunto.
Eu explico -: ando tão preguiçosa...tenho preguiça até de pensar em escrever!
E também não fico muito à vontade para escrever sobre a mulher, posto que sou uma.
Se me pedem para falar sobre um homem, faria comentários emocionados sobre meu pai, meu marido, que foram homens especiais para mim.
Agora...como mulher que sou gosto de ler uma homenagem, receber uma flor, um anexo por e-mail, um carinho.
Dá para notar minha preguiça, não é mesmo? E não é porque dançei muito no Carnaval, de maneira alguma. Acho que trata-se de uma semana "sabática".  Gosto dessa palavra, nunca tinha usado por aqui!
Minhas amigas me perdoem, minhas filhas e minha nora também, e minha irmã idem, mas nem disse uma palavra sobre seu dia, nem uma flor, nem um gesto - mesmo que virtual - de carinho.

Aproveito então para dizer algumas palavras - um dia acredito que serão lidas - para minhas netas. Duas mulherzinhas lindas, uma de quatro anos e a caçula de um ano e oito meses.
Meninas queridas, Valentina e Lara:- sejam mulheres alegres, felizes em sua plenitude.
Estudem muito, leiam muito, aprendam tudo o que for possível, porque aprender é o que realmente vale a pena, o que realmente te dá amparo, sustento, sabedoria.
Cuidem-se. Tratem de fazer amizades sinceras, para sempre...
Preservem-se, não se envolvam com pessoas que vão magoá-las, destruí-las.
Amem-se, não se apaixonem por alguém que não as amará como vocês merecem.
Tenham auto-estima, nem que a vida não lhes reserve um companheiro,  a mulher deve e pode ser feliz, quando ela se respeita.
E lembrem-se: RESPEITO é a palavra chave. Ela abre horizontes, mantém a dignidade, conserva a alegria e a beleza.
Estou investindo em vocês minha esperança de que essa maratona valerá a pena.
Parabéns então para nós todas, e flores para vocês... todas...


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terça-feira, 1 de março de 2011

O lago


Ele foi esticando o corpo moído, devagar, os ossos doendo de cansaço. A rede era grande e confortável, fresca, debaixo da enorme paineira. Sentia-se tão consumido pela fadiga mas ao mesmo tempo tão orgulhoso e feliz por ter conseguido terminar o enorme buraco onde formaria seu lago.
Aquelas férias foram anciosamente esperadas e planejadas. O pequeno regato que margeava um dos lados do sitio deveria ser desviado para um espaço plano, preparado com cuidado, para transforma-se em um lindo lago, e depois, lá embaixo, continuar seu curso.
Tudo tinha corrido conforme seus planos. Os homens que o ajudaram eram decentes, bons com as ferramentas, e tudo foi demasiado rápido e tranquilo. Um trabalho pesado, claro, mas que ele fazia ombro a ombro com os peões, de sol a sol, sem reclamar.
Até que finalmente, naquele dia, soltaram a pequena comporta e a água limpa e doce do riacho começou a invadir o espaço que lhe fora destinado. Era o pequeno rio virando lago e depois voltando a ser rio novamente, cumprindo seu destino.
E o homem lá em cima, banho tomado, balançando suave em sua rede, percebeu que a noite chegou rápida e ele não conseguiria mais alcançar com o olhar os limites de seu sitio.
Continuou ali, sonhando - quem sabe coloco uns peixes bonitos, ou talvez monte um pequeno veleiro para o filho brincar - porque não?
Está feito - pensava - amanhã bem cedo desço para ver o nível da água. Agora é descansar.
Da casa vinha um burburinho de vozes de crianças, a mãe comandando os banhos, as roupas a serem usadas, as toalhas. Aos poucos o silêncio, as crianças já banhadas, exaustas das brincadeiras do dia, deixavam-se ficar na sala, jogadas pelo chão, aguardando o jantar.
Ah! o jantar...era bem vindo depois de um dia desses. A fumaça do fogão a lenha já estava a algum tempo misturando-se com os vagalumes pelo terreiro.
Logo, logo, estariam todos comendo, conversando, fazendo planos para o dia seguinte, que se fosse de sol daria muitas brincadeiras, agora também lá embaixo, esperando o lago encher de água.
Aproveitou mais um pouco aquele silêncio que ele amava demais, aquele pedaço de céu tão estrelado que parecia de mentira, e agradeceu por tudo - eu sei - porque era muito feliz naquele rincão querido.
Alguns minutos depois via-se apenas a rede balançando, lenta, em meio aos vagalumes. Hora de retirar-se...



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