terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um conto?



Um solavanco a fez voltar do sono leve, um breve cochilo, no banco do ônibus que a trazia de volta para casa.
A viagem havia sido longa mas estava chegando ao fim. Viajar à noite não tinha sido muito bom, lá fora tudo negro, apenas o reflexo de seu rosto triste no vidro fechado. Fazia frio, estava muito cansada.
Desde o embarque não tinha siquer olhado de lado, envergonhada pelas lágrimas que insistiam em rolar, abundantes, pelo rosto tão jovem e tão magoado.
Olhando mais detalhadamente via-se que era uma menina, uns dezoito anos? Rosto delicado, cabelos longos e morenos, pele pálida. Chorou durante todo o percurso, baixinho, e mesmo quando finalmente adormeceu percebia-se que soluçava, como se seu coração estivesse doendo.
E agora, bem perto da estação final, um movimento brusco do motorista a despertou e ela finalmente olhou para mim, assustada.
Sorri meu melhor sorriso de bom dia - não se assuste, está tudo bem!
Ela retribuiu o cumprimento e disse timidamente - acho que dormi, estamos chegando?
Aproveitei aquele momento rápido de cumplicidade para dizer que também não dormi a noite toda,  que estava triste por ter deixado a mulher que amava, mas que esperava desde já a oportunidade de voltar para vê-la.
E então aquela menina levantou pra mim seus  olhos castanhos, inchados de chorar e de uma tristeza profunda.
E lá no fundo daquele olhar eu percebi que ela não ia voltar. Aquelas lágrimas eram de despedida.
Era um ciclo que chegava ao fim, era uma nova vida a partir daquela noite, e tudo aquilo doia muito.
Nos despedimos na rodoviária, um breve aperto de mãos, votos de felicidades para mim, de superação para ela.
Já fazem tantos anos, nunca mais a vi, mas sempre me lembro daquelas lágrimas rolando pelo seu perfil, olhando para o nada lá de fora, soluçando baxinho.
Senti uma pontinha de inveja pelo homem merecedor daquela despedida e desejei sinceramente uma vida de alegrias para ela.
Gostaria de ter sido seu amigo. Será que é feliz?



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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eu me lembro!



Um dia desses, na sala de espera da clínica de fisioterapia, estive folheando uma revista e li uma pequena crônica - infelizmente não gravei o nome do autor - que falava sobre o que realmente lembramos do período escolar. Ele se referia aos primeiros anos,  trazendo à tona seus mais remotos dias de criança.
Com sinceridade eu digo que esqueci  quase tudo o que aprendi. A prova real, os números primos, algumas taboadas. De português? não saberia mais conjugar os verbos, fazer uma análise gramatical. E os rios e seus afluentes?  e os nomes das pessoas que fizeram parte da Historia do Brasil? quase todas eu me esqueci.
Mas eu não esqueci de minha primeira professora. Nem de minha primeira escola, tão linda, pintada de amarelo bem clarinho, pátio cheio de arcos, mastro onde hasteávamos a Bandeira Nacional toda semana.
Não...não dá para esquecer o rosto de alguns amiguinhos, hoje tão distantes de mim, onde estarão?
E na saída das aulas, quando havia chovido, as brincadeiras nas valetas que a chuva deixava pelas ruas sem asfalto de minha querida cidade. Como esquecer?
E na hora do lanche, desembrulhar o pacotinho de papel de pão - que nem sempre tinha pão - mas mandioca frita, bolinho de arroz, uma banana.  Não tínhamos vergonha do lanche simples, todos éramos crianças, famintas e totalmente inocentes. Comíamos às pressas para aproveitar o tempo com brincadeiras - de amarelinha, de roda, de bate-bafo, de bolinha de gude.
Não esqueço o frio na barriga em dia de prova, a algazarra nos ensaios do coral, o respeito na hora da fila quando cantávamos o Hino Nacional antes de entrar para as classes.
Penso mesmo que me lembro de tudo o que precisa ser lembrado, ou melhor :- mereçe ser lembrado.
Se não sou uma pessoa melhor, poderia ser pior se não tivesse tido a oportunidade de viver aquela época, naquele lugar, com aquelas pessoas.  De que me adiantaria saber ainda todos os algarismos romanos se não tivesse as lembranças e a saudade de minha  escola querida?
Fechei a revista quando chegou minha vez de ser atendida e pensei com meus botões  - "ele está certo...pobre daquele que não tem saudade. Esquecer pra que?"...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Olha bem!



Diga-me agora, sem pestanejar, quantos homens bonitos como ele você conhece?
Dá para contar nos dedos, não é mesmo?
Então esforce-se mais um pouco e responda: quantos cantores você conhece que tem a voz dele?
Pouquíssimos em? Talvez nenhum! Ou - vá lá - um!
E o carisma, o sorriso, o rebolado - uau ! - e aquele topete atrevido que inspirou tantos jovens na década do rock.
Elvis Aaron Presley, foi tudo isso e infinitamente mais. Tão querido e famoso que até hoje é lembrado com respeito e saudade. Dancei muito ao som de suas músicas, embalada pela voz forte e ao mesmo tempo tão doce.
Um fato engraçado: nunca falei inglês, mas sabia (decoradas) suas músicas inteiras, cantava e dançava em frente à pequena vitrola, bem alto, como se fosse uma grande cantora americana. Rebolava como ele, rodopiava, e por alguns instantes tinha a deliciosa ilusão de que cantávamos juntos.
Quando o disco terminava, eu voltava para minha vassoura - que  segundos atrás era meu microfone, ou minha guitarra - e continuava  varrendo a casa, obrigação que era minha aos sábados e domingos.
Saudosismo? sei lá...acho que é isso mesmo. Continuo assistindo seus shows, em video, e ouvindo suas músicas mais interessantes. Não gostava dele no cinema, nem ia ver os filmes - engraçado não? - porque para mim aquilo tudo, o Havai, as praias, as dançarinas com as quais ele sempre se envolvia nas historias, não me interessavam. Eu queria ouvir, cantar e dançar.

Já comentei aqui em casa que gosto muito de ver alguns shows internacionais, sempre homenageando ou angariando fundos, quando artistas do porte de Paul McCartney, Phil Collins, Roger Walter e muitos outros "velhões" inteiraços cantam seus sucessos atuais e do passado.
Então fico pensando, qual seria o impacto de um Elvis Presley entrando no palco, com setenta e sete anos, gordo e de macacão branco bordado de lantejoulas? Não sobrava pra mais ninguém!
Tenho um lindo poster dele, que meu genro trouxe de Menphis, na parede do outro quarto (o da bagunça), que mandei emoldurar e só não coloco no meu quarto porque quando ganhei meu marido ainda vivia e disse-me: - "se você colocar em nosso quarto eu saio!" e ele falava sério.
Então não tenho coragem de traze-lo para meu quarto porque chego a sentir o Luiz fungando em minhas costas, de ciúme. -  Bobo, eu sei que era só graça sua, que no fundinho você também gostava dele.
Dia oito de janeiro foi aniversario do Elvis, como disse ele faria setenta e sete anos. Viveu pouco, uma vida boa até alguns anos antes da morte, quando entrou em paranóia e encontrou alguém que o ajudou a dar fim naquele emaranhado todo. Mas isso é assunto para biógrafo, não eu.
Eu quero apenas sentar em minha poltrona favorita, ligar o som e ouvir a voz que jamais houve igual.
E nesse momento que é só meu sentir-me novamente adolescente, cantando e rodando feito louca pela sala, com aquela alegria que só a juventude apaixonada tem.
Deixo aqui meu brinde ao maior, ao melhor, ao rei! tim...tim...




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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Meu filho na faculdade



Estava aguardando com certa ansiedade essas semanas que marcam o inicio das aulas. As mães que levam seus filhos pela primeira vez à escola sabem o que esses dias significam. A iniciação na escola é também uma época dificil para as mães. Lembro-me da primeira vez que deixei meus dois primeiros filhos, juntos, no pátio do colégio, enfileirados para entrarem em suas classes. Só de me lembrar a emoção volta viva, como se fosse hoje.  Fui chorando do colégio até em casa, cega pelas lágrimas e sentindo-me a pior das mortais.
Com minha terceira filha foi diferente, ela simplesmente não ficou na escola, tamanha a gritaria que armou. Naquela época não permitiam que os pais ficassem para adaptação, e ela perdeu o uniforme e material, porque não houve alguém capaz de convence-la.  Todos têm historias engraçadas e emocionantes para contar. Com meus netos não fugimos da regra. Minhas filhas, para seguir o padrão lacrimoso da familia, choraram baldes na despedida do primeiro dia de aula. Já minha nora, cabe aqui um fato diferente. Meu netinho mais velho, Otávio, foi levado pela mãe e ficou bem, sem muitos rodeios, apenas olhando timidamente ela se afastar.  Ela, evidentemente, mal enxergava o caminho de casa de tantas lágrimas.
O inusitado veio na hora de sair da escola. O Otávio grudou no portão e chorarva que não queria ir embora para casa. A mãe sentiu-se muito mal, - mas como? - afinal, o que ela esperava era um sorriso e um grande abraço de reencontro...enfim, crianças são assim, nos surpreendem a cada dia.
E hoje eu, essa mulher que achou que já tinha vivido todas as emoções com seus filhos, estou novamente com o coração palpitando porque meu filho, Junior, está indo para a faculdade.
Veja só, as meninas também  me emocionaram quando foram aprovadas, com seus sonhos e seus orgulhos, mas ele só agora vai cursar a faculdade. Casado, três filhos, trabalhando muito, matando um leão por dia e calouro na faculdade de engenharia de sua cidade.
Como trabalhou muito conosco, seus pais, em nosso pequeno comércio, não teve a oportunidade de fazer curso superior na época certa. E agora sente necessidade de aprimorar seus conhecimentos para poder vencer na industria em que trabalha.
O que posso dizer para esse filho carinhoso, amigo, bondoso e companheiro?
O que uma mãe faz quando deixa seu pequeno filho na porta da escola pela primeira vez? Dá-lhe um abraço apertado e um longo beijo na bochecha rosada. Vira-se e sai andando cega pelas lágrimas.
Por mais que os anos passem, os sentimentos são os mesmos, as alegrias e emoções também.
Quando ele me telefonou contando que tinha conseguido a vaga, perguntou-me -  "você está orgulhosa"?
Sente só isso:  é uma mãe orgulhosa de ver seu filho caminhando na vida, e é um filho precisando da aprovação e do chamego da mãe. Viram como nada muda com o passar dos anos?
Meu brinde de hoje é feliz e cheio de confiança no futuro de meu querido filho, porque ele sabe que meu coração está transbordando de orgulho, por mim, e pelo seu pai, que deve estar sorrindo largo ao ver as estrepolias de seus frutos.
A cervejinha gelada você paga quando eu for até aí...certo?