segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Alegria




Quando vejo as propagandas ou videos dos maravilhosos circos internacionais que hoje visitam o Brasil, fico encantada com o espetáculo que produzem.  Nada de animais fechados em jaulas,  famintos e à beira de um ataque de nervos, andando sem parar, em circulos, como que procurando uma saída, qualquer uma.
São espetáculos lindos, coloridos, com artistas perfeitos e muito bem treinados. Fico realmente maravilhada, porque o circo sempre foi a forma mais próxima da alegria total.
Ver as crianças olhando um malabarista, um trapezista ou outro artista se exibindo, é um momento mágico. Os olhos brilham, o sorriso brota, as mãos já postas para bater palmas. Repare.
Mas a hora do palhaço é a preferida. Até hoje, empoleirada na arquibancada da vida, já atingindo as últimas tábuas, alegro-me muito com um palhaço, ou dois, ou muitos.
Havia um programa aos domingos, nos anos 50, na TV Record, sempre depois do almôço. Chamava-se Circo do Arrelia. Era programa obrigatório da criançada, espalhadas pela sala, aguardando a cortina que se abria para um mundo irreal.  Arrelia era o dono do circo, o palhaço "maior" o centro do show.
Apresentavam alguns números de malabarismo, trapézio, macacos. Tinha até teatro, com historias contadas com muita graça, muita ingenuidade. Agora...quando entrava o Arrelia, com seu ajudante e primo chato, o Pimentinha (o nome já diz como era chato) o circo ficava muito mais lindo, colorido, feliz!
As piadas, brincadeiras, bofetões, tombos, banhos de agua gelada, farinha de trigo espalhada até entre a platéia, faziam a nossa alegria e tornavam as nossas tardes de domingo muito mais interessantes.





Arrelia viveu muitos anos, morreu velhinho e respeitadíssimo por todos que gostavam de sua arte.
Acredito que meus irmãos mais novos não tiveram a sorte de assistir ao circo, apenas eu e o Edison, os mais velhos. Esses programas de auditório foram substituidos por desenhos animados, muito bons, ou série de filmes que nos transportavam para um mundo que não era o nosso.  Era um mundo americano, fácil e lindo, que os deixava sonhando em ser o Cabo Rusty, dono de Rin-tin-tin, ou quem sabe o menino que tinha uma cachorra chamada Lassie? e muitos mais que não me ocorrem agora.
Mas as palhaçadas do Arrelia nas tardes de domingo ficaram para sempre gravadas em meu coração. Até hoje fico emocionada quando vejo um palhaço, mesmo que seja na porta de uma loja, feio e sem brilho, distribuindo balas e convidando as mães para verificarem os preços.
A alegria da garotada de hoje é bem diferente mas não menos inteligente e interessante. Quisera eu ter um computador a minha disposição quando tinha 7 ou 8 anos. Pistas de patinação no gelo, pula-pula na cama elástica...isso é muito bom, e vejo a mesma alegria nos olhos das crianças de agora.
Nós dois, os irmãos mais velhos, trocamos o cirquinho na TV pelo novo modismo da época, a matinê nos domingos à tarde. Era sensacional trocar de roupa, encontrar com os amigos na rua de casa e ir à pé até o cinema que ficava bem perto. O programa era sempre um filme voltado para as crianças, um intervalo, e um capitulo do seriado. Não perdíamos um domingo, para desespero de meu pai, que nem sempre estava em condições de pagar nosso cineminha. Fazíamos um berreiro, saíamos correndo falando que não precisava de dinheiro, que a gente ia sem ele mesmo. E papai acabava cedendo, ou acabávamos de castigo por alguns domingos, dependendo do humor dele. Tudo isso antes de eu completar dez anos, quando ainda morávamos no centro.
A mudança para o bairro acabou também com essa nossa alegria, restando apenas os programas que o Padre de nossa Igreja sempre inventava para distrair as crianças da Cruzada Eucarística.
Outro dia volto a esse assunto, falando sobre os programas que o Padre Rafael criava para nos divertir e ensinar a viver em comunidade. Vai dar um capítulo e tanto, tenho certeza.
Aos palhaços maravilhosos que alegravam os domingos de minha vida de menina que, apesar das privações e carências, foi uma infância feliz, eu levanto um brinde de agradecimento e saudade.
Ser criança é sempre a mesma coisa, antigamente ou hoje, o que mudou foi o mundo. A inocência nasce com as pessoas, o mundo é quem a deturpa, ou respeita. Eu pertenço ao segundo grupo.
Tim-tim!
 




imagens do google

11 comentários:

  1. Oí!!!
    olha nóis aqui outra vez.
    Cine Clamour, ficavamos na parte de cima, todos os domingos, "O homem borracha, Bomba (filho do Tarsan),Zorro, os cavaleiros do deserto, hali baba etc..acho que era isso. Lembra um dia que o cine ficou lotado com a apresentação de Hebe Camargo, foi um barato.
    Quando você for falar das brincadeira de domingo na igreja do Padre Rafael, não esqueça do meu apelido "pirulito".....não vou falar mais nada.

    Beijos

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  2. Os palhaços são mesmo apaixonantes! Pena que hoje estão um pouco esquecidos...
    Quanto à infancia, concordo com você.
    As crianças ainda são iguais...O mundo é que mudou...Elas nascem puras e precisam de pouco pra se divertir!!
    Viva o circo! Os palhaços e todas as crianças (inclusive as "crescidinhas")
    beijos

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  3. Claro que concordo com tudinho aí em cima!!! Texto impecável e belas memórias registradas para selecionado público leitor!!! Adoro vc, querida Ivani, que me conquistou com sua bela escrita!!! Muito obrigada sempre!!! Beijocas e ótima quarta feira!!! Bela.

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  4. Emoção ao extremo...Uma hora chora-se de dor com você, outra chora-se de saudade ou de alegria...Sua escrita é minha companheira de horas que passo imaginando o que você viveu!!! Viro sua amiga de infância!!!!
    Que delícia!

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  5. Palhaço - Circo....também me faz lembrar de algo que marcou muito a minha vida e sempre me fez valorizar muito o papai e sentir o seu sofrimento. Talves você não chegou passar por isso, mas vou contar....Você lembra que quando chegava os circos no Km 18, eles eram armados perto da rua da feira, próximo a Rilsan,... antes dos espetáculos e para chamar a ateção do público, fica na frente os animais, os palhaços, marabaristas, mágicos etc.O papai levava nós (eu e o gemeos, não me lembro se você também ía)para vê-los e comprava saguinhos de pipoca. Quando do início do espetáculo, o papai não tinha dinheiro para comprar os ingressos e voltavamos para casa, todos tristes, principalmente ele...aquele homem que foi e sempre será o meu porto seguro.
    Uma passagem triste, que me trouxe um poder muito grande, o de imaginação e sonho, pois ficava mentalizando como seria lá dentro do circo com todo aqueles aparatos. Não morri por isso, só agradeço, pois foi, e sempre será, uma das coisas que me dá força para a minha batalha de vida.Nem sempre conseguimos aquilo que queremos de imediato, mas pelo simples fato de querer, traçamos uma meta e vamos brigar com dignidade e respeito para que possamos alcança-la.
    Beijos.

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  6. Ah! seu danado! hoje foi você quem me fez chorar.
    estamos empatados.
    Eu nunca fui com vocês, senão me lembraria.
    Acredito que ele só levava os meninos, porque eram menores.
    Você tem razão, ele era um exemplo de dignidade, e foi assim até o fim.
    Sinto muita saudade dele. Dos passinhos de dança quando estava feliz, das piscadinhas de olhos quando maliciava alguma coisa, do pente alisando os poucos cabelos mesmo que fosse para ir até a padaria. Muito vaidoso, cheiroso, leve e silencioso.
    Do que mais precisamos com tantas lembranças?
    Você fez um lindo comentario. beijo

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  7. Eliana disse...
    Ia comentar uma coisa muito alegre sobre seu texto, mas agora não posso pois estou chorando muito...de saudades.....

    Beijos

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  8. ai, ai, ai...precisamos escrever mais sobre coisas alegres!
    deixe seu comentario depois, não tem importância.
    e olha, sentir saudade é bom. O Edison extrapolou hoje, eu também me emocionei bastante.
    Prometo que vou dar um tempo nas saudades.
    Já enxugou a lágrima? beijo

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  9. Fui ler aqui justo hoje que eu estou toda chorosa!!
    Que lindo!

    beijos

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