segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os Couras



Essa foto e mais algumas que vou postar, pesquisei e salvei do Google. Esse lugar chama-se Alverca da Beira, distrito de Pinhel, Portugal.
Segundo informações na internet, hoje são 620 habitantes. Acredito até que já foram mais,  a vila tornou-se patrimonio historico e  consta que os jovens saem de lá para completar os estudos e trabalhar em outras cidades, restando então os mais velhos, que não deixam sua casa, sua terra.
Depois de minhas pesquisas, estou acreditando que nessa pracinha morava a familia de Joaquim Monteiro Ramos, pai de meu marido, português da gema, não só pelo nome mas pelo porte orgulhoso, a pele bonita e morena, um certo brilho de saudade nos olhos que só um português autêntico consegue ter.
Ele contou certa vez, que: o pai  tinha sobrenome Coura, herdado de seu bisavô, mas não sabia explicar porque ao completar dezoito anos (o pai de meu sogro)  tiraram-lhe o nome Coura e ficou apenas Ramos.
Quero acreditar que o motivo da mudança foi que os portugueses descendentes de judeus sempre foram muito perseguidos e mudavam seus sobrenomes para enganar seus predadores. Consta que esses judeus escolheram nomes da natureza para substituir os seus, então por isso existem por terras luzitanas tantos Castanheiras, Pereiras, Laranjeiras, Carvalhos, Ramos e etc.
Isso tudo comentava-se em casa, porque o sr. Joaquim era um homem que lia muito, bem informado e interessado nos assuntos de sua terra natal.
E um dos assuntos frequentes era sobre a pracinha, a única da vila, onde havia um sobrado com uma pequena loja ao nivel da praça  e residência em cima, onde ele morava com os pais e mais cinco irmãos.
Eram tantos os relatos, tantas memórias e detalhes que vendo essas fotos parece-me estar lá. E sei como ele gostaria de nos ter dado a oportunidade de conhecer esse lugar!
Veio para o Brasil ainda adolescente, parece-me que aos l3 anos, isso em meados de 1930. Foram para Manaus, onde os pais fundaram uma fábrica de macarrão e depois de alguns anos resolveram tentar São Paulo, mais precisamente Sorocaba. Isso é apenas um resumo, claro, de uma vida riquissima em acontecimentos e viagens fantásticas de navio e de trem. De Manaus ele tinha doces lembranças, lindas historias e muita saudade. Enfim, meu sogro era uma fonte de assuntos interminaveis, apesar da dificuldade que tinha para se comunicar depois de uma doença gravíssima na garganta, que tirou dele a voz, e não a vontade de falar.


Por parte dos avós maternos havia a lembrança de uma quinta, com plantações de uva para vinho. Daí resultou seu gosto apurado para um bom vinho e uma boa mesa.
Tudo isso havia ficado para trás, e conforme os anos passavam tinha-se a impressão de que as lembranças eram mais nítidas e mais alegres. Para ele era um enorme prazer falar de sua infância pobre porém farta em calor humano, carinho, e frutas, e vinho, e batatas, e azeitonas, e pão feito no forno à lenha, e tudo o mais que parece-me ter um valor enorme na infância.
Foi um avô carinhoso, atencioso, sempre com um sorriso na metade dos lábios onde não estava o cachimbo.
Foi-se embora tranquilamente, sem despedidas e sem uma palavra siquer sobre suas saudades, sua familia, seus netos tão adorados.
Partiu tranquilo, sereno, e deixou um grande vazio, uma vontade enorme de ouvir suas historias  e pedir a ele pra escolher as melhores castanhas para o Natal, o melhor pedaço de bacalhau para a ceia, o melhor azeite.
Queria fazer esse relato simples, mas sincero, para um homem que soube viver, amar e partir com a altivez de um autêntico português, orgulhoso e muito bonito.
Seus netos só teriam a ganhar se pudessem compartilhar com ele suas vidas e seus filhos.
Um brinde com o melhor vinho português ao melhor dos portuguêses. Tim-tim!

5 comentários:

  1. Que linda homenagem ao vovô...
    Ele era mesmo assim, um avô gostoso, carinhoso, cheio de histórias...
    Sinto muita falta dele, parece que foi ontem que partiu...mas já se foram 21 anos...
    Gostaria de ir até Portugal pra conhecer um pouco da sua terra...acho que essa viagem teria um sabor especial, não acha? Topa ir comigo?
    Beijos e tim tim, com um belo vinho verde!
    Ju

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  2. Quem lê o comentário da JU acredita que vcs vão mesmo.....eu pago pra ver!!!
    O vovô era o máximo mesmo!!!!
    bjs

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  3. Tata, que bela homenagem você acaba de fazer para o Sr. Joaquim, ele realmente foi tudo e algo mais que você acaba de relatar. Eu também,em quero ir para Portugal e aproveitar a viagem para dar uma passadinha na Itália, "dois palito, estou nessa". Larissa convença o Marcelo e vamos nessa, vai ser muito gostoso.

    ESTOU FALANDO SÉRIO............

    Beijos.

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  4. Pena eu não ter conhecido o Sr.Joaquim...Grande conto adorei, já pensou se essa for a praça mesmo??? Nossa que legal seria!
    UM BEIJO

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  5. O Sr. Joaquim foi um dos homens mais elegantes qu conheci, que bom ler suas palavras que descrevem perfeitamente o que foi este homem...
    Tambem estou dentro para embarcar...rsrsrs
    contem comigo...

    Beijos

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