quarta-feira, 29 de setembro de 2010

nossas crianças

Ontem passei por uma experiência um tanto desagradável ao conversar com  uma pessoa que conheço muito pouco, apenas de encontros eventuais pelas imediações de meu predio.
Eu estava com minha netinha de apenas l ano e três meses, e essa senhora foi muito deselegante ao afirmar, sorrindo: - se meu filho resolver ser pai, essa criança que nascer não terá avó. E eu não vou ajudar a cuidar, porque nunca vou abrir mão de minha vida para ficar em casa com criança.
Sorri e disse que ela não deveria pensar assim, porque nunca sabemos o que virá amanhã.
A tal senhora continuou falando mais algumas bobagens e eu continuei meu passeio com Lara, que já começava a dar sinais de cansaço.
Em casa me surpreendi pensando naquele assunto e em como certas pessoas são amargas, pobres de amor, carregadas de maus pensamentos. Eu que sempre achei que aquela era uma bela mulher tive uma enorme decepção ao notar que trata-se apenas de embalagem, aliás, embrulho para presente, bonito e cheio de laços, o que não significa que seja algo valioso. Você pode se surpreender ao abrir o pacote e encontrar apenas papel amassado, velho e embolorado.

Como pode alguém não gostar de netos?  Como pode alguém olhar com desdém para uma criança, para um bebê sorrindo? Como posso eu ser tão boba e perder tempo pensando nessa mulher...
Isso me assusta, porque sem querer penso em crianças maltratadas, abandonadas, famintas, e são tantas nesse mundão de meu Deus. Porém,  eu me recuso a pensar que elas tenham avós.
Se têm, devem estar no mesmo barco de sofrimentos e misérias, porque senão jamais se permitiriam assistir a dor de uma criança, principalmente de suas crianças.
Eu quero e preciso acreditar que uma avó só aceita essa provação, quando todas as chances de ajuda, para ela e para os seus, forem totalmente esgotadas.
Agora volto ao meu assunto de ontem.  Essa mulher não sabe (e nunca saberá!) o que é ter um neto nos braços.  Mesmo que seu filho lhe dê netos, ela não saberá, porque não tem sensibilidade para saber.
Mesmo que carregue em seu seio aquele corpinho macio, quentinho, ela não dará valor, porque não tem alma de mãe, portanto, não pode ser avó. Será apenas uma mulher carregando um bebê. Que triste isso!







A alegria do primeiro sorriso olhando nos seus olhos, a primeira vez que levantam a mãozinha para tocar seu rosto... e quando dizem vovó então..isso vale todas as penas  Valeu ter chegado até aqui e ser avó.
São seis os meus netos. Tão diferentes um do outro como têm que ser, e tão iguais em meu coração e nos meus pensamentos como eu quero que seja.
Tenho orgulho deles  - são lindos, perfeitos, felizes. São crianças,  acima de tudo. E também estão acima de todos os problemas que eventualmente nós adultos tenhamos que enfrentar.  É assim que deve ser.
Para uma pessoa amarga, isso não tem valor algum, assim como suas vidas não tem sentido algum.
Para uma mãe e avó apaixonada por sua prole, como conheço muitas e muitas, felizmente, a oportunidade de ver seus tesouros crescendo saudáveis, não tem preço...
Será que vale a pena uma postagem só para falar nessa mulher azeda? Tenho certeza que vale, porque para uma pessoa azeda existem milhões de pessoas doces e suaves. Não importa o nível social, nem o cultural e muito menos a aparência, o que importa é o conteúdo. É abrir o pacote e encontrar um sorriso, um afago, uma palavra doce.
A essas pessoas especiais eu levanto meu brinde, saúde! tim-tim...




as gravuras eu garimpei no Google.

domingo, 26 de setembro de 2010

anos dourados



Toda vez que converso com uma amiga, ou com uma prima, sobre nossa juventude nos anos 60, invariavelmente nosso papo é interrompido por sonoras gargalhadas.
Hoje, lançando um olhar saudoso para aqueles tempos, fica tudo muito engraçado. Como disse em outra postagem, vamos lembrar apenas das coisas boas, porque as más não valem uma lágrima.
A moda daqueles anos merecem atenção especial em nossas prosas. Havia a determinação de que se uma artista de cinema podia usar, nós também podíamos, ou melhor, devíamos. Então veio a moda da saia plissada, em tecido xadrez ou listrado, super colorido senão ficava sem graça. Nem todas ficavam bem com essa saia, mas "todas" tinham uma. Parecia uniforme, saia plissada e "conjuntinho de ban-lon".
Eu explico! o conjuntinho de ban-lon, nada mais é do que o Twin-set que até hoje é muito usado.
Mas naquela época era fabricado em ban-lon, um tecido 100% sintético, sufocante, quentíssimo, que nós usávamos bravamente sob um sol escaldante de verão. Mas, era a moda!
Eu só podia ter um, escolhi lilás nem sei porque, pois é uma cor que não combina com quase todas as outras.
Quem me conhece sabe que eu, hoje, não suporto essa cor, deve ser algum trauma dos anos dourados.
Os twin-sets de hoje são mais largos, mais longos e elegantes, feitos em tecido confortavel tanto para o frio como para calor. Os nossos eram usados rente à pele, colados mesmo, e curtos na altura da cintura, portanto imaginem as gordinhas, de bunda grande, usando saia plissada e "conjuntinho de ban-lon" . Enfim, era moda!
Obviamente haviam roupas mais bonitas e usáveis, mas as meninas insistiam em usar o que aparecia no cinema e nas revistas de fotos de artistas americanos.
As meias de nylon, peça obrigatória no guarda roupas, tinham uma costura que vinha da sola do pé até o arremate nas pernas. Como usávamos "cinta-liga", porque não tinham inventado ainda as meias calças, a costura costumava ficar torta, pois a cinta não era lá muito firme.
Então, cada vez que alguma de nós levantava-se para ir ao banheiro, ou para dançar, não importa o motivo, virava-se para a amiga ao lado e pedia: - dá uma olhada na minha costura, vê se está torta.
Caso um olhar positivo, era uma aflição até consertar a tal linha sinuosa, pois isso era considerado muito deselegante. Pobres rapazes então, com suas calças boca-de-sino, agarradas na cintura e abrindo perna abaixo, até terminar em uma barra enorme que cobria os sapatos, deixando os magrelos bem mais magros e os gordinhos com uma aparência no mínimo estranha.





Não é atoa que rimos muito quando nos lembramos de tudo isso. E os cabelos então?  Escovados à moda "gatinho", ou enrolados em um coque que tinha o simpático nome de "banana".  Lembro-me também deles presos em coques com cachos imitando uma cascata, ou bem curtinhos como de Rita Pavone, nossa musa italiana.
Lembro-me de uma grande amiga, até hoje nos vemos sempre,  que naquela época cuidava dos meus cabelos e eu dos dela. Como boa filha de russa e polonês, tem os cabelos louros e lisos e eu tenho os meus escuros e ondulados. Ela tinha muita vontade de ter os cabelos como os meus, e eu queria ter os dela. É  sempre assim, não?  Eu enrolava "bobies" nos cabelos dela, molhados de fixador, que depois de soltos ficavam com a aparência de uma peruca, pois ela não escovava com medo de perder os rolinhos.
Ela por sua vez, fazia "touca" nos meus cabelos molhados, que quando secavam e eram soltos ficavam lisos, devo reconhecer, mas virados para um lado só, dando uma aparência um tanto esquisita.
Estamos as duas com os cabelos grisalhos, ela curtinho e bem liso, eu curtinho e bem crespo,  e nem pensamos mais em trocar de cabelo, não é mesmo Halina?
Quem lê esse texto pode até pensar que era tudo muito fútil, ou que pensávamos apenas na aparência. Mas não, era tudo muito dificil, os produtos de beleza eram caros e não tínhamos dinheiro para comprar todos,  criando aí um mercado interessante, porque trocávamos entre nós, delineadores, bases, lápis e rímel.
Ninguém saia sem maquiagem, nem com cabelo desarrumado, e muito menos de costura torta.
Quase morríamos de calor em nossas roupas sintéticas e nossos sapatos apertados, andando de ônibus, segurando o cabelo para o vento não desmanchar, mas éramos bem felizes nesses momentos.
Aquela alegria que nos fazia sair de casa com sapatos velhos levando os novos na bolsa para não sujar no barro, acreditando que não podia ser melhor, era uma alegria inocente e deliciosa.
Adoro me lembrar daqueles dias e fico agradecida por te-los vivido em boa companhia, sem medo, sem dúvidas, sem preconceito.
Um brinde aos anos dourados? Vamos lá...tim-tim,  hoje com suco de fruta (não abri mão da cerveja não!)
porque nesses anos não tão dourados que vivemos hoje, sou obrigada a fazer alguns exames para saber o quanto mais posso beber.  Vai dar tudo certo!
beijos


as fotos foram emprestadas do Google.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

uma pequena parte



Lembranças existem para serem contadas. E tenho tantas!  olha só minha primeira escola!
Esse prédio imponente, com entrada em arcadas, abriga a Escola Estadual Marechal Bittencourt, onde estudei do primeiro ao terceiro ano.  Nota-se que é um belo edificio, como já não se fazem mais tratando-se de escola estadual.  Logo abaixo vou colocar uma foto mais recente e poderemos comparar. A falta de cuidado, o desleixo com o patrimonio público, o aumento constante da população, tudo leva à depredação, ao abandono.  Da ultima vez que vi minha escola fiquei emocionada, lembrei-me do pátio interno, calçado com pedras grandes, de onde viam-se as salas de aula, todas com portas voltadas para um terraço.
Nesse pátio cantávamos o Hino Nacional, todos os dias antes de entrarmos para a classe. Minha professora, a primeira, chamava-se "Alceste". Nome dificil de esquecer, não?
Jovem e bonita, morena, teve a péssima idéia de tentar me fazer escrever com a mão direita logo nas primeiras aulas. Minha mãe não gostou, foi até ela para conversar e dizer que ser canhoto não era um defeito, que eu havia nascido assim, usava a mão esquerda para tudo, não entendia porque mudar.
Pronto, bastou mamãe exigir e nunca mais ela me criticou, tornaram-se amigas, e quando mamãe deu à luz aos dois meninos gêmeos ela foi uma das primeiras a visita-la, causando grande orgulho para a familia toda.
Naqueles tempos, a profissão de professora era muito importante, uma pessoa respeitadíssima, e uma honra enorme recebe-las como visita. Hoje também merecem respeito, mas não o tem.



Essa segunda foto é mais recente, o prédio continua imponente, mas já muito sofrido e triste, com as janelas e o muro quebrados, o jardim nitidamente mal cuidado.
Eu morava em uma rua muto próxima,  perto também da fábrica onde papai trabalhava e minha vida até então era comum, de uma menina alegre, com um irmão companheiro nas artes e brincadeiras, sobre as quais ainda vou escrever muito..
Nem imaginava que depois do nascimento dos gêmeos muita coisa aconteceria e mudaria minha vida para sempre. O quarto ano do curso primário já não cursei nessa escola e sim no bairro para onde nos mudamos após papai construir nossa casa. São tantas coisas para serem contadas que torna-se dificil escolher um período. Prefiro mistura-los, ir contando conforme me lembro. Essa mudança para o bairro transformou drásticamente nossas vidas também. Logo mamãe morreu, e teve inicio um dos períodos mais angustiantes para nós. Éramos tão crianças, tão indefesos, e mamãe nos amava muito, era uma mulher intensa, alegre, participante, e nos deixou completamente perdidos, desamparados e infelizes. Meu pai sofria muito, trabalhava muito, e nos atendia na medida do possivel e do seu tempo.
Tempos dificeis, a infância interrompida para poder cuidar dos meninos mais novos. Cuidava à minha maneira de menina, cometendo grandes erros e poucos acertos, mas,  mesmo sem perceber, mantendo a familia unida com laços de amor que são fortes até hoje, disso posso falar com certeza e muito orgulho.
Papai foi um homem presente, um grande pai. Se cometeu erros foi querendo acertar, e foi nosso amigo até seu ultimo suspiro, após muitos anos de vida.
Tenho tanto pra contar! Vou contando aos poucos, para não ser cansativa.
Quero falar ainda de meus filhos,  frutos de um grande amor, resultados de uma linda união, mas vou escrever sobre eles um outro dia.
Hoje estamos falando de irmãos, um assunto que vai me render ainda muitas postagens.


Meus irmãos são o resultado de uma vida de companheirismo e camaradagem. De sofrimento e de alegrias também. De necessidades básicas de conforto, mas de abundância de amor e carinho. E é a esse sentimento forte que nós brindamos sempre que nos encontramos, porque não há nada que nos deixe mais felizes do que estarmos juntos. Eu brindo a esse amor!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os Couras



Essa foto e mais algumas que vou postar, pesquisei e salvei do Google. Esse lugar chama-se Alverca da Beira, distrito de Pinhel, Portugal.
Segundo informações na internet, hoje são 620 habitantes. Acredito até que já foram mais,  a vila tornou-se patrimonio historico e  consta que os jovens saem de lá para completar os estudos e trabalhar em outras cidades, restando então os mais velhos, que não deixam sua casa, sua terra.
Depois de minhas pesquisas, estou acreditando que nessa pracinha morava a familia de Joaquim Monteiro Ramos, pai de meu marido, português da gema, não só pelo nome mas pelo porte orgulhoso, a pele bonita e morena, um certo brilho de saudade nos olhos que só um português autêntico consegue ter.
Ele contou certa vez, que: o pai  tinha sobrenome Coura, herdado de seu bisavô, mas não sabia explicar porque ao completar dezoito anos (o pai de meu sogro)  tiraram-lhe o nome Coura e ficou apenas Ramos.
Quero acreditar que o motivo da mudança foi que os portugueses descendentes de judeus sempre foram muito perseguidos e mudavam seus sobrenomes para enganar seus predadores. Consta que esses judeus escolheram nomes da natureza para substituir os seus, então por isso existem por terras luzitanas tantos Castanheiras, Pereiras, Laranjeiras, Carvalhos, Ramos e etc.
Isso tudo comentava-se em casa, porque o sr. Joaquim era um homem que lia muito, bem informado e interessado nos assuntos de sua terra natal.
E um dos assuntos frequentes era sobre a pracinha, a única da vila, onde havia um sobrado com uma pequena loja ao nivel da praça  e residência em cima, onde ele morava com os pais e mais cinco irmãos.
Eram tantos os relatos, tantas memórias e detalhes que vendo essas fotos parece-me estar lá. E sei como ele gostaria de nos ter dado a oportunidade de conhecer esse lugar!
Veio para o Brasil ainda adolescente, parece-me que aos l3 anos, isso em meados de 1930. Foram para Manaus, onde os pais fundaram uma fábrica de macarrão e depois de alguns anos resolveram tentar São Paulo, mais precisamente Sorocaba. Isso é apenas um resumo, claro, de uma vida riquissima em acontecimentos e viagens fantásticas de navio e de trem. De Manaus ele tinha doces lembranças, lindas historias e muita saudade. Enfim, meu sogro era uma fonte de assuntos interminaveis, apesar da dificuldade que tinha para se comunicar depois de uma doença gravíssima na garganta, que tirou dele a voz, e não a vontade de falar.


Por parte dos avós maternos havia a lembrança de uma quinta, com plantações de uva para vinho. Daí resultou seu gosto apurado para um bom vinho e uma boa mesa.
Tudo isso havia ficado para trás, e conforme os anos passavam tinha-se a impressão de que as lembranças eram mais nítidas e mais alegres. Para ele era um enorme prazer falar de sua infância pobre porém farta em calor humano, carinho, e frutas, e vinho, e batatas, e azeitonas, e pão feito no forno à lenha, e tudo o mais que parece-me ter um valor enorme na infância.
Foi um avô carinhoso, atencioso, sempre com um sorriso na metade dos lábios onde não estava o cachimbo.
Foi-se embora tranquilamente, sem despedidas e sem uma palavra siquer sobre suas saudades, sua familia, seus netos tão adorados.
Partiu tranquilo, sereno, e deixou um grande vazio, uma vontade enorme de ouvir suas historias  e pedir a ele pra escolher as melhores castanhas para o Natal, o melhor pedaço de bacalhau para a ceia, o melhor azeite.
Queria fazer esse relato simples, mas sincero, para um homem que soube viver, amar e partir com a altivez de um autêntico português, orgulhoso e muito bonito.
Seus netos só teriam a ganhar se pudessem compartilhar com ele suas vidas e seus filhos.
Um brinde com o melhor vinho português ao melhor dos portuguêses. Tim-tim!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

elas são um presente




Ando como boba pelas ruas da cidade onde moro, olhando para os lados e para cima, encantada com as flores das árvores.
Essa é a época mais bonita do ano, a florada dos ipês.  Por aqui eles são muitos, de várias cores: rosa, amarelo, branco, roxo. O que mais me apaixona é o amarelo. Ele tem luz própria, brilha, ilumina.
Algumas ruas aqui perto de casa têm ipês amarelos em toda sua extensão, um espetáculo que tenho até  vontade de aplaudir. Nas calçadas um tapete de flores, e sobre eles as pessoas andam, algumas sem perceber o maravilhoso presente que estão recebendo dessa natureza tão generosa.
Observo que poucos admiram a beleza dessas árvores magnificas, que não pedem nada em troca dessa exuberância.  Alguns até reclamam porque a calçada fica suja ou escorregadia, demonstrando uma total falta de sensibilidade para com essas árvores antigas, que tanta beleza oferecem além da sombra amiga em dias de sol intenso.
Sou uma apaixonada por elas, não só pelos ipês, mas também as paineiras, as acácias, os flamboayants, os manacás da serra, os jacarandás mimosos com suas florzinhas roxas, e tantas outras que não me lembro o nome, mas amo!
hoje queria postar algumas palavras,  lembrei-me da rua que ontem vi forrada de flores amarelas e senti que precisava falar sobre elas. Essa temporada de árvores floridas é muito rápida,  num instante passa e eu não poderia deixar de postar aqui minha admiração e respeito.  Dentro de poucos dias as flores caem totalmente, o vento e a chuva levarão as flores restantes e em alguns meses ficarão as copas verdes dando alivio à cidade no verão.
Felizmente a natureza é perfeita e no próximo ano lá estão elas,  nos surpreendendo em cada esquina, em cada curva, renovando a promessa de dias coloridos e perfumados. 


Pronto, deixei aqui em meu querido blog uma pequena mostra do que me encanta. São tantas e tão simples as coisas que me encantam que vou falar delas aos poucos, para não falar só de saudade e nostalgia.
Afinal, quando me propus a escrever aqui meus comentarios e meu cotidiano, diga-se de passagem muito encorajada pela minha amiga Soninha, eu sabia que nem tudo seriam lágrimas, nem sorrisos, nem nostalgias.
Eu sabia que iria escrever também sobre beleza, e dificilmente verei coisa mais linda do que um ipê florido.
beijo

terça-feira, 14 de setembro de 2010

minha saudade



Muitas e muitas vezes ouvi pessoas, até mesmo eu, parodiando Ataulfo Alves com a frase "eu era feliz e não sabia". Existem períodos na vida os quais sabemos que são felizes,  adoramos estar vivendo esses acontecimentos, ficamos alegres de estar vivenciando essa fase. É o que acontecia comigo, há muitos anos, quando adquirimos, meu marido e eu, um sitio nas proximidades de Ibiuna. As crianças eram pequenas, tinham entre um e seis anos, morávamos em uma cidade que não oferecia lazer algum, clima poluido, e uma violência que existe em cidades muito grandes.
Resolvemos então investir em um pedaço de terra, nosso, onde pudéssemos criar nossos filhos ao ar livre, com os pézinhos no chão, sol na cara, vento nos cabelos.
Não vou entrar em detalhes sobre a casa, topografia, plantações e outras coisas que tomam tempo e espaço.  Vou falar da alegria nos finais de semana, já na sexta-feira à noite, ao colocarmos tudo no carro, até cachorro e passarinho,  e nos debandarmos por aquela estrada tão conhecída a cada curva, cada buraco, loucos por chegar em nosso sitio e nos jogarmos de braços abertos, cada um com sua paixão.
As crianças apaixonadas pelo terreiro, pelas brincadeiras na terra, pelas balanças nas árvores. Meu marido apaixonado pelo seu pequeno trator, seu lago (que ele mesmo mandou cavar) sua horta. E eu, acreditem, pelo meu fogão a lenha e minha pequena casa, simples demais, mas tão querida que só de lembrar choro de saudade.
Eu era feliz, e SABIA!

É um lugar frio, onde o inverno é bem rigoroso, mas meu pequeno fogão aquecia nossa minuscula  casa, nossa comida gostosa, nosso café que ficava  no bule de ágata sobre a chapa de ferro,  e nossos corações quando nos sentávamos na cozinha para conversar ou jogar dominó.
Falaria sobre aquelas noites pelo resto de minha vida, mas os dias também eram divertidos, cheio de trabalho e brincadeiras, visitas, a familia chegando para um churrasco, os vizinhos tão simples, como nós, que chegavam para um dedo de proza.
Meus filhos corados, com apetite, correndo com o cachorro, levando tombos, rolando no barro, tomando chuva. Num belíssimo dia, tive a belíssima idéia, de comprar algumas cabras. Chegamos a ter vinte e duas.
Tomávamos o leite, fazíamos queijo, e não existe no mundo um animal mais bonito do que um cabritinho recem-nascido. Eu ainda não vi! eles são tranquilos, carinhosos, deixam-se pegar no colo, adoráveis.
As férias eram sempre lá, as festas de fim de ano também, as páscoas e até as festinhas de aniversario, algumas aconteceram por lá. E sempre, na hora de voltar para casa,  arrumava as malas chorando e viajava vários quilometros enxugando as lágriamas, quieta, porque queria ficar.
Foram vários motivos, inclusive a distância depois da transferência de meu marido para a cidade onde moro hoje, que nos levaram a vender nosso tesouro.

Nem vou escrever sobre a despedida, porque, como já disse aqui, não estou preparada para falar de adeus. Coube a mim, justamente a mim, entregar as chaves e retirar alguns pertences. Conto apenas que cheguei antes do novo proprietario, e fui até a paineira que eu plantei pequenina e transformara-se em uma linda árvore, grande e muito forte. A abracei chorando e assim fiquei  por vários minutos, sabendo que ali estava ficando um pedaço de mim, uma historia linda.
Já fazem tantos anos que tudo isso aconteceu, desde a despedida passaram bem mais de vinte. A alguns anos atrás, talvez uns sete, voltando de uma viagem passei por lá. Nunca mais havia ido, só não sabia que o novo dono também não ia com frequência,  e tomei um susto quando cheguei até a  porteira.
Nada tinha mudado, nada mesmo. Apenas as árvores estavam maiores, a casa era a mesma, o portão era o mesmo, até o cadeado com a corrente enferrujada eram os mesmos. Cheguei bem perto, olhei lá para dentro, e por um momento achei que tinha sido a última a fechar o portão.  E tive a impressão de ouvir  alguém dizer:  "estou como você me deixou, só você me amava e cuidava de mim".
Exagero meu? sei lá, só sei que tenho saudade, e essas fotos que postei acima mostram a minha paineira entre outras árvores menores.
não vivo chorando pelos cantos relembrando momentos felizes, mas quero deixar registrados esses momentos, porque afinal, é disso que se vive, de boas lembranças, porque as más não valem a pena de uma lágrima, muito menos de um texto.
beijo

sábado, 11 de setembro de 2010

uma vida



esperei  esse livro por muito tempo.  Quando comprei, na semana passada, ao apertá-lo contra o peito enquanto andava pela livraria, era como se estivesse abraçando Gabo.
foi uma sensação mágica, assim como são mágicos todos os seus livros.
tenho todos, e alguns já li duas ou três vezes. Lembro-me que minha filha Juliana comprou "Cem anos de Solidão", mas como toda adolescente, não teve paciência para ler, e esse livro esteve lá, na mesa de seu quarto por um bom tempo.
então,  resolvi folhear o livro, ler as abas, a introdução, e quando me dei conta estava perdidamente apaixonada pelo autor. Fui comprando outros, e à medida que lia, me encantava mais e mais pelo seu modo incrivelmente fantasioso e envolvente de contar suas historias.
esse homem tem uma imaginação fascinante e me arrebata para seu mundo maravilhoso nas terras de sua Colombia, banhada pelo mar do Caribe.
além de seus romances, tenho toda sua obra jornalística, reunida em livros. quando foi correspondente de um grande jornal de Bogotá em terras da Europa. São textos brilhantes,  envolventes, que me fazem querer ler muito mais.
essa biografia deve ser perfeita, pois foi autorizada por ele, com muitas entrevistas com amigos e parentes, e muitas fotos também. Ainda não comecei a ler, primeiro preciso terminar Ilha sob o mar, de Isabel Allende, pois não consigo deixar um livro pela metade para começar outro. E esse livro que leio agora é muito interessante!  fala da escravidão nos anos 1700/800, mas não no Brasil e sim no Haiti, quando ainda não era esse o nome da ilha e sim Santo Domingues, dominada de um lado por franceses e outro espanhois. A historia começa na ilha, onde cultivava-se a cana para açúcar, e termina na Lousiania, Mississipi. Mais precisamente, Nova Orleans, essa mesma, onde ocorreu aquela catástrofe do furacão katrina.
já é possivel imaginar o quanto é interessante, e como é que vou suspender essa leitura para começar outra?
impossivel, Gabo vai ter que ficar mais um pouco descansando no armário.  Quando puder lê-lo, sei que vai ser como uma viagem, uma loucura, um deslumbramento de informações e historias maravilhosas, verdadeiras, sobre uma vida fantástica que só ele poderia ter. Porque acredito que, para ser um escritor com o potencial de Gabriel Garcia Marquez, há que ter vivido de maneira plena todos os seus sonhos e loucuras, senão seria impossivel passar para os leitores toda essa mágica.
vou contando aos poucos aqui nesse meu blog querido. Prometo não chatear com exageros, escrevendo demais sobre o assunto. Mas que vou contar, ah! vou mesmo!
beijo

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

o pequeno ninja







Em minha familia dá de tudo! temos galãs, princesas, e ninjas!
o nosso ninja está completando seis anos hoje, e comentou logo cedo com a mãe "EU TÔ IGUAL QUANDO TINHA CINCO ANOS!".
é exatamente essa inocência que me encanta nas crianças. Essas tiradas que só quem vive o dia a dia sabe explicar.
minha amiga Bela fez um comentario na postagem anterior, onde ela diz muito sabiamente que a minha fanfarra ficou no passado, agora, "é a fanfarra dos netos enchendo de barulho seu coração".
verdade, essas crianças sabem preencher cada espaço dos nossos dias, e noites também, com seus sorrisos e frases doces.
bom, aqui estou eu já fugindo do assunto, que hoje é o aniversario do Renato.
sabe aquele Renato namorador, que não deixa de beijar as menininhas da escola? é ele!
e o Renatinho safado que dança rebolando como se fosse um artista? é ele!
tem também o Renato carinhoso com os irmãos, que abraça e beija o pequeno! é ele!
ah! e tem também aquele Renato loiro, cabelo encaracolado, carinha linda, olhos verdes brilhantes!
e o sorriso meio tortinho, de lado,  que dá um arzinho de deboche? é dele!
esse é o nosso ninja, valente e forte, e que enche meu coração de alegria quando me abraça e diz : "tava com saudade de você vovó"!
pois então fica aqui registrado o dia do nascimentos de nosso "ratinho branco" como dizia vovô Luiz. que estaria muito orgulhoso e feliz ao ver os frutos de seus filhos  crescendo fortes e espertos.
que nosso querido menino loiro tenha um vida tranquila e cheia de amor.
Viva!  é pique, é pique, é pique!!!
beijo

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

meu colégio







Hoje recebi de alguns amigos de Osasco, um anexo onde pude  assistir às homenagens aos 60 anos de nosso colégio, o Ceneart. No desfile do 7 de setembro, o colégio desfilou na avenida principal da cidade, celebrando seu aniversario. Confesso que fiquei emocionada.
trata-se de um filme curto, amador, mas ver aqueles jovens carregando a bandeira da escola me fez voltar no tempo, como num sonho, ao som da fanfarra Laerte Rizzardi.
a fanfarra de hoje é apenas uma sombra da nossa, que era tão imponente, numerosa, enchendo a avenida e nossos corações de orgulho e alegria. Foi um período tão marcante, tão intenso, que não consigo passar para as pessoas o sentimento de saudade, misturado com nostalgia e pena. Sim, pena!
os jovens de hoje nunca terão as emoçoes que nós vivemos nos anos 60. E isso me dá pena, porque era tudo tão puro, tão leve...
Vivíamos uma ditadura, eram tempos difíceis, mas as coisas corriqueiras como um desfile da independência, um baile de formatura, uma feira de ciências, eram tão importantes, tão intensamente vividos.
e os namoros então? nunca escondi de ninguém meu primeiro amor,  que não foi o último, mas que foi encantador, envolto em músicas e poesias e versos e sonhos...
amor que começou na adolescencia e durou até onde tinha que durar, até o dia  que simplesmente terminou, não tão simples assim, não sem dor e saudade.
e esse nosso colegio foi tão importante, com amizades maravilhosas, inesquecíveis. Alguns amigos até hoje fazem parte de minha vida e com eles divido essas memórias.
quando deixei de frequentar suas aulas, quando minha vida ganhou um novo rumo, inclusive com um novo amor,agora sim definitivo e último, não pensei que iria sentir saudade.
mas sinto, e o que doi é saber que não tem retorno, e que agora só me resta lembrar.
ainda bem que esses pensamentos surgem e vão logo embora, como uma fanfarra na avenida, barulhenta e alegre, e que vai desaparecendo no meio da multidão, seu  som ficando mais e mais distante.
minha intenção escrevendo essas linhas foi apenas registrar o quanto fui feliz em nosso colégio querido e o quanto me marcou vê-lo hoje sendo homenageado por gente jovem e bonita.
um brinde à minha escola, base de tantos e tantos destinos espalhados por esse mundão de Deus!
beijo

sábado, 4 de setembro de 2010

Minha irmã se acha!


Deve ter sido a maneira como foi criada, para ficar assim tão petulante, achando que no seu aniversario, eu devo  escrever algumas palavras. Fui cobrada pelo telefone -  "escreve alguma coisa sobre mim".
E disse mais - "diga meu nome, porque quero que as pessoas saibam".
ela é assim mesmo, sem noção alguma,  achando que foi a primeira, competindo com minhas filhas. Ciumenta!
temos quatorze anos de diferença,  isso explica tudo. Eu adolecente, querendo viver minha vida e essa menininha andando colada em mim, usando meus sapatos, minha maquiagem, sentada no colo do meu namorado!
ficou assim, insuportável, e adorável, na condição de mãe de dois filhos lindos (um dia conto detalhes), mulher batalhadora, amiga, companheira e irmã que se propõe a elogiar e cobrar mais postagens nesse blog querido.
minha familia tem uma caracteristica da qual nenhum de nós conseguimos fugir. Nos divertimos muito quando estamos juntos, e choramos muito também. Por qualquer motivo, lá vamos nós chorar abraçados. E temos uma vocação enorme para a felicidade. Já foram tantos os momentos de dor, e num piscar de olhos lá estamos nós fazendo uma piada e relembrando um fato engraçado. Mas isso não é loucura, não. ´Digo que é amor, um tipo de amor que nos mantém sempre sintonizados e dispostos a deixar tudo de lado para correr ao encontro um do outro.
para essa mulher que mimou meus filhos, que mima meus netos, e me levanta o astral a quilometros de distância, o meu brinde especial de hoje. E com caipirinha, da boa, como só ela sabe fazer.
Tim-tim...saúde!
Em tempo: já passou da meia noite e a data será do dia 4.
bem feito Eliana, não consegui no dia 3 (ela sabe o que estou falando!)
beijo

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Valores



Frequentemente ouço ou leio uma frase que me faz pensar. Um dia li: "o homem já chegou à lua mas tem dificuldades para atravessar a rua e conhecer seu vizinho.".
é verdade mesmo, não é? esse assunto já está mais do que comentado entre pessoas que gostam de discutir relacionamentos. Não quero me deixar levar pelo tema, apenas permito que meu pensamento voe bem longe, e me leve aos vizinhos de minha infância.
todos se conheciam pelo nome, e sobrenome (era muito importante saber sobrenome). Ninguém visitava o vizinho, a não ser em casos de doença, para oferecer ajuda, para prestar solidariedade.
poderia ficar aqui descrevendo vários casos de amizade e também de fofoca de criança (também tinha!). Mas acredito que vou ter bastante tempo para ir contando esses "causos" nesse meu blog querido. Vou contar apenas um, que acho exemplar.
minha mãe não conseguia amamentar os filhos, talvez por alguma deficiência decorrente da doença que a levaria tão cedo. Fui sua primeira filha e tive o privilégio de ter uma tia amamentando sua filhinha. Essa tia querida me deu seus seios, fartos, durante meses. A mim e à minha prima, até que eu pude tomar de outros leites. Qualquer dia desses volto a esse assunto. Estávamos falando de vizinhos. Quando nasceu meu irmão, o mesmo problema se repetiu, mas morávamos em outra cidade, e não havia tias amamentando.
e é nesse ponto que queria chegar, uma vizinha! Essa mulher linda, tinha um bebê de poucos meses e muito amor no coração para dividir, não só os seios negros, mas também todo o carinho que brotava dela. Tinha um sorriso bom, voz grave, braços redondos. Lembro-me dela sorrindo com meu irmão no colo, feliz por estar ajudando mamãe a superar aquela fase dificil. Naquela rua todos davam-se muito bem, mas a amizade dessa mulher com minha mãe era de irmãs, mais ainda, de comadres.
Foi ela quem batizou meu irmão, ela quem escolheu o nome, a igreja, roupas brancas. Dona Aurora, que foi amiga durante o resto da curta vida de mamãe, mas que nunca esquecemos por ter alimentado meu irmão que hoje é forte, saudável, e tem uma voz grave, braços redondos, sorriso fácil.
coincidência?
a vida vai nos levando pra longe das pessoas, mas algumas são inesquecíveis.
Dona Aurora é uma delas. Beijo.

Imagem: Google